terça-feira, 8 de novembro de 2016

António Ramalho ou Henrique Pousão, o pensionado

[António Ramalho] a conselho de Silva Porto, concorreu ao lugar de pensionista do Estado, na classe de paisagem, aberto pela Escola do Porto, pelo que, durante alguns meses, se instalou naquela cidade, preparando-se para o acontecimento [...]

Da Batalha às Fontainhas (a rua Alexandre Herculano em construcção), António Ramalho, 1880.
Imagem: Alexandra Reis Gomes Markl, António Ramalho, Pintores Portugueses, Lisboa, Edições Inapa, 2004

Conjuntamente com o seu adversário, Henrique Pousão — aluno da Academia do Porto e de Marques de Oliveira —, participou naquele que foi, para os padrões da época, um evento muito mediático. (1)

O quadro de paisagem tinha um prazo de execução de 30 dias, partindo de um esboceto pintado num sítio escolhido pelo júri. E este foi curioso: um local nas obras de abertura da Rua Nova da Batalha, no Porto, hoje Rua Alexandre Herculano.

Numa composição que muito deve às paisagens que copiara de Silva Porto, Pousão encena o sítio das obras [...] como que a assinalar uma área ainda rural que estava em vias de urbanizar.

António Ramalho [...] preferiu representar os operários a trabalharem a pedra no local, e o seu cromatismo privilegia o tom e textura das pedras em desalinho na via por construir.

Aqui dominam os tons terras, ao contrário da prova de Pousão, em que as cores fortes do céu e das árvores têm primazia [...]

Paisagem do Porto (a rua Alexandre Herculano em construcção), Henrique Pousão, 1880.
Imagem: Carlos Silveira, Henrique Pousão, Pintores Portugueses, Matosinhos, Quidnovi, 2010

A 6 de Agosto, em conferência geral do júri, os dois candidatos são igualados em mérito absoluto, mas Pousão vence em mérito relativo, por oito votos contra dois. (2)

Esta renovação, esta resurreição da arte em Portugal, que oxalá seja uma data, que marque o inicio d'uma época, e se prolongue pelos séculos futuros, devemol-a aos esforços da primeira geração de artistas, que sahiu das Academias fundadas pelo grande estadista Passos Manoel em 1837, e o acto official que mais contribuiu para os resultados obtidos, foi a creação dos pensionistas, subsidiados pelo Estado em Paris e em Roma, para ahi completarem os seus estudos. (3)


(1) Alexandra Reis Gomes Markl, António Ramalho, Pintores Portugueses, Lisboa, Edições Inapa, 2004
(2) Carlos Silveira, Henrique Pousão, Pintores Portugueses, Matosinhos, Quidnovi, 2010
(3) Zacarias d'Aça, Lisboa moderna, Lisboa, Liv. Editora Viuva Tavares Cardoso, 1907

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